Eu nunca questionei a minha heterossexualidade. Ela sempre foi automática pra mim. Você nasce hetero, não há por que questionar o “padrão de fábrica”.
Assim vivi minha vida.
Casei com o meu namorado da adolescência e construímos uma relação baseada em diálogo, honestidade, leveza, amor… Um casal de comercial de margarina.
Não faltava nada, não tinha nada fora de lugar.
Até que, um belo dia (na verdade era noite), nós ficamos com uma amiga nossa e tudo isso mudou.
Foi uma sintonia instantânea, tudo fluiu tão naturalmente entre nós três… Foi algo que eu só senti antes uma vez, com o meu marido.
Era pra ser algo casual. Mas acontece que eu não sou uma pessoa casual.
De repente me vi assim: vivendo um trisal, confusa, apaixonada por duas pessoas e morrendo de medo de tudo isso. E feliz, muito feliz.
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Também me vi conhecendo uma nova versão minha.
Aquela heterossexualidade que eu nunca questionei virou uma grande interrogação na minha cabeça.
Quem sou eu nessa relação?
Qual é o meu papel aqui?
Eu sabia meu papel antes, tinha um “script” que eu sabia de cor, que eu era capaz de dominar e onde meu papel era claro, mas agora o script está em branco.
O sentimento de fraude chegou rapidinho.
Mas eu sempre fui hétero… Como agora, do nada, posso ser outra coisa?
Então eu sou bi, é isso?
Mas eu nunca tinha vivido nada assim, será que não estou me apropriando de um rótulo que não é meu?
Será que eu só estou me enganando?
Acho que a verdade é que as pessoas – e suas sexualidades – são fluidas e, no fim, eu sou o que eu sou.
Estou vivendo algo incrível e amando essa minha nova versão não-apenas-hétero, amando cada descoberta, amando explorar e conhecer mais dessa nova eu.
Acho que isso devia bastar, né?
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