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O que eu aprendi com a terapia menstrual

Você já ouviu falar em Terapia menstrual? Me aventurei nesta experiência, e compartilho com vocês agora.

O que eu aprendi com a terapia menstrual

Comecei a terapia menstrual com a antropóloga e educadora menstrual Janaína Morais, com pós-doutorado em estudos sobre ancestralidade feminina.

Lembro-me da sensação de entrar na casa dela pela primeira vez, um ambiente lindo, cheio de plantas e livros, com aroma de ervas e palo santo defumado, exatamente como eu imaginaria ser a casa de uma bruxa-cientista. 

A minha queixa inicial eram as cólicas menstruais: precisava de algo que me ajudasse a passar pelo período menstrual sem me entupir de remédios.

A terapia se mostrou um convite para uma abordagem holística, que mescla conhecimentos sobre o funcionamento do corpo com saberes de parteiras antigas, doulas e mulheres que estudam os ciclos femininos há séculos.

Já na primeira sessão, conversamos sobre os impactos do anticoncepcional (que eu tomava há anos), e ela disse:

“O anticoncepcional oral age na libido como um punhado de areia sendo jogado em uma fogueira acesa. Um pouquinho de areia todo dia… Aos poucos, vai ‘apagando’ a libido e o potencial criativo”.

O meu contexto na época era: escrevendo a dissertação do mestrado e com a agenda abarrotada de trabalhos. Portanto, a promessa de aumentar minha criatividade e libido fez meus olhos brilharem! 

Como eu já sabia que energia sexual e criativa são da mesma “fonte” (a maior prova é que o sexo é a via de materialização de um novo ser humano), saí do atendimento decidida a abandonar a pílula e ansiosa para conhecer meu ciclo, criatividade e libido natural.

Arte criada por Janaína Morais, do seu sangue menstrual.

Vendo o ciclo sob outra perspectiva

Nas primeiras sessões, Janaína me explicou o funcionamento do ciclo em uma perspectiva da ginecologia natural. 

Para cada fase do ciclo, existem energias específicas. E os sintomas físicos podem dizer mais do que simples alterações hormonais.

Ela me ensinou a elaborar minha rotina levando em conta o ciclo menstrual e as principais tendências em cada fase. 

Também me estimulou a substituir o absorvente descartável por um coletor menstrual, para que eu visse meu sangue como ele é (eu nunca tinha visto meu sangue para além do absorvente descartável).

Arte criada por Janaína Morais, do seu sangue menstrual.

Neste processo, naturalmente senti uma conexão com as mulheres que vieram antes de mim.

Fui intuída a fazer vaporização do útero, que é um processo de limpeza energética do útero a partir de ervas específicas. Seguem registros do meu diário:

“Fiz vaporização do útero com um alecrim que foi plantado na granja da minha mãe. Acendi uma vela e pedi por limpeza e cura para minhas ancestrais. Foi uma experiência tão bonita e marcante, que me trouxe o sentimento de paz. No dia seguinte, meu sangue chegou. Plantei minha lua (ritual de jogar sangue menstrual nas plantas para adubar o solo). Vi meu sangue, sua cor, textura. Me senti uma menina descobrindo o sangue, pela primeira vez sem nojo, e com curiosidade. Tudo isso, vivi na última lua cheia.”

O tesão (e a raiva) sem pílula

A analogia com o fogo como a libido fez muito sentido pra mim. 

Quando me deparei com minha raiva, tesão e criatividade sem pílula, foi como me deparar com um fogo interno com o qual eu não sabia lidar direito – e que muito me assustava!

Em meu diário:

“A raiva e desejo são sentimentos que acostumei a reprimir, como toda mulher, e agora, sem a pílula, toda a força da raiva e do tesão que moram em mim foram libertados e não sei direito o que fazer com isso. Tenho medo de me queimar com este fogo que despertei dentro de mim.”

Eu tinha episódios muito claros de picos dessa energia circulando em meu corpo. 

Por exemplo, quando eu estava em flow criativo produzindo um texto, uma excitação sexual percorria o meu corpo físico. 

Ou, em uma sessão, Janaína fez uma meditação focada em sentir o útero, e eu “vi” meu útero como uma terra fértil, com brotos de plantas crescendo, simbolizando as possibilidades criativas que eu estava vivenciando. 

Fertilidade era a palavra. Criativa e sexualmente. 

Era um estado constante de excitação pela vida. Podia ser uma música, um chocolate, uma frase: eu sentia tesão na alma. 

Arte criada por Janaína Morais, do seu sangue menstrual.

E é claro que isso me gerou muita culpa e inadequação, pois fomos ensinadas a vida toda a reprimir nosso tesão e nossa força criativa. 

Felizmente, eu estava com o acompanhamento da terapeuta menstrual, que não me deixava cair nestas armadilhas que buscam nos diminuir.

“Não vou mais me culpar por sentir tesão na vida. Uma mulher com libido é uma mulher criativa. E isso é poder. E o poder feminino assusta o patriarcado.Mas, não vou mais diminuir esta força. Vou aprender a usá-la, em uma alquimia de poder pessoal, para que eu tenha energia para realizar o que preciso fazer aqui na Terra, com criatividade e prazer!” 

Entendendo a TPM, menstruação e cólicas

Janaína me ensinou que durante todo o ciclo, jogamos muitas coisas que nos incomodam debaixo do tapete. 

Na TPM é como se nosso corpo jogasse essa sujeira na nossa cara. 

Em resumo, tudo o que você ignora o mês inteiro fica insuportável na tpm. 

Isso tudo potencializado por oscilações hormonais que deixam a gente sensível, dolorida e cheia de questões para encarar. 

Quanto menos eu me ouvia naquele ciclo, impunha limites e respeitava meu corpo, mais dor eu sentia na menstruação. Quanto mais difícil era o ciclo, maior a cólica. 

Mas o corpo feminino é sábio e acolhedor: escancara a sujeira debaixo do tapete, e nos ajuda a limpar. 

Depois da catarse, menstruamos. 

O que para mim, isso significava cólicas. 

Arte criada por Janaína Morais, do seu sangue menstrual.

Sobre elas, Janaína me ensinou a acolher a dor.

Ao invés de me entupir de remédios (e ainda sentir dor),  negociei com meu chefe um dia de folga durante a menstruação, e eu repunha previamente as horas deste dia. 

Sei que nem todas têm essa possibilidade, mas conseguir ficar em casa todo mês no primeiro dia de menstruação me ajudou muito a aliviar as cólicas. 

Nestes dias, fazia um chá, esquentava uma bolsa de ervas (presente da Janaína), escrevia, via um filme bem levinho, quentinha e de meias. 

Isso transformou minha relação com a cólica. Não que ela viesse mais leve, mas eu sofria menos porque estava cuidando de mim ao invés de performando uma disposição que eu não estava sentindo.

Eu aproveitava para me limpar daquele ciclo, fazia um balanço, um fechamento de questões em aberto e colocava intenções para o próximo. 

A gravidez e meu ciclo hoje

Claro que toda essa vontade do meu útero criar coisas novas me fez ignorar as orientações da Jana sobre prevenir gravidez.

Então, 2 anos após começar a terapia menstrual, engravidei da minha primeira filha.

A maternidade é um evento à parte e merece um texto só sobre ela. Gestação, parto e puerério foram outras iniciações (as mais poderosas da minha vida). 

Hoje sou mãe, e esse negócio do dia da cólica não existe mais (inclusive, neste momento minha filha entrou aqui e me interrompeu a escrita). 

Mas, eu me permito o mínimo de mimo e desaceleração neste período, porque sei que está acontecendo um evento de renovação em meu útero – e eu celebro esta renovação. 

Hoje uso DIU, portanto, sinto o meu ciclo de forma diferente: é tudo mais suave, que é o que preciso agora. Mas sei que não é o meu estado natural.

Sinto que esta jornada enriqueceu meu poder pessoal e autoconhecimento. Me sinto mais dona de mim, com um poder pessoal que nunca havia sentido antes após aprender a dominar forças que eu temia, como tpm, raiva, tesão, dor e sangue.

Hoje não penso em tirar o DIU (não quero nem considerar a possibilidade de ter outro filho, rs). 

Mas foi maravilhoso ter me permitido me conhecer desse jeito, enxergado meu ciclo sob outra perspectiva, e aprendido a honrar ainda mais quem eu sou.

Anna Leão

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