Ao entrar no apartamento do Abacaxi, estilista e fundador da marca Piña, em uma
comunidade no Rio de Janeiro, as “Pinetes”, modelos oficiais da marca, estavam se arrumando e conversando sobre maquiagem, naquela bagunça de makes e cores que a gente já conhece e ama.

A música de fundo? Louvores evangélicos (dos vizinhos).

Conhecida como uma marca autêntica e autoral com a linguagem da periferia, a Piña se mostra ainda mais exclusiva e cheia de arte quando é vista pessoalmente: muitas das roupas presentes nas fotos do instagram são peças únicas, criadas para aquela campanha, ou personalizadas com itens de brechó.

Desde criança, o estilista era apaixonado pelo universo da moda, mas foi reprimido pela cultura machista da época, que associava o interesse por moda a algo pejorativo.

O reencontro veio alguns anos mais tarde, quando começou a customizar roupas e vendê-las em um brechó, com seu toque criativo, experimentando.

Algumas peças, conta que customizou usando fogo. Outras, barbeador. Em muitas, as peças iam sendo reveladas enquanto testava técnicas.

Em todas, dava pra sentir o chamado da criatividade. Para a criatividade, tudo é uma grande brincadeira. E o estilista sabe brincar, transformando peças comuns em obras únicas, transformando Abacaxi em “Piña” colada.

Pudemos ver a criatividade fluindo pessoalmente: para a nossa surpresa, os looks que seriam fotografados em nosso editorial estavam sendo feitos na hora!

Quando alinhamos o briefing da matéria sobre a Piña com o Abacaxi, combinamos de fotografar a coleção mais recente. Mas, uma das Pinetes sugeriu que ele fizesse “alguma coisa de oncinha”, para o editorial da revista, e ele decidiu fazer os biquínis, ali, na hora!

Os biquínis foram feitos à mão e ajustados perfeitamente no corpo das modelos.

As Pinetes não são apenas modelos da marca: são parte do processo criativo e contribuem para que a marca seja o sucesso que é.

Saímos para fotografar meio dia. A previsão era de chuva, mas era o Rio de Janeiro e a Energia Criativa estavam ali abençoando, então, fez sol.

Saímos pela comunidade procurando o local ideal. Nas ruas, as mulheres elogiavam as modelos: “que tropa hein??”, “lindas!”

Uma criança gritou: “Abacaxi, quero aquele casaco”, demostrando como a moda da Piña é pulsante, representa aquela galera e gera desejo.

Já os homens, muito assédio. Surreal como em uma cidade como o Rio de Janeiro, mulheres de biquíni ainda provocam tanto alvoroço.

Tiramos algumas fotos na rua, outras em um ferro velho escolhido na hora, e por último, em uma laje.

Lá em cima, olhando aquela imensidão de casas, pessoas, no calor de uma da tarde no Rio, percebemos que não havia lugar melhor para que o Abacaxi pudesse contar sua história.

Assista a entrevista com Abacaxi no nosso canal do Youtube.

A série O Processo do Artista é uma curadoria de marcas de moda autênticas, criativas, que movimentam o mercado da moda na contramão das fast fashions. Veja outros artigos sobre Moda.