Espelho, espelho meu…
Um objeto por vezes condenado, outras, supervalorizado.
Aquele que nos reflete, mas que é preciso ter calma e atenção para realmente nos enxergarmos e permitirmos ver o que eles nos mostra, por detrás das primeiras impressões e aparências.
É necessário coragem para parar e olhá-lo, de frente, com o coração acelerado e pensamentos a mil.
Recentemente, fiz esse exercício e é incrível relembrar quantos sentimentos me sobressaltaram.
Lembranças e emoções tamanhas, que meus olhos marejaram e eu sorri para mim mesma.
Fiquei feliz de me ver, ali parada, de peito aberto e mente serena, celebrando a conquista de estar orgulhosa da trajetória, tortuosa e cheia de aprendizado, que venho percorrendo.
Flashbacks vieram e me fizeram pensar sobre como aquela menina que se autojulgava e buscava a perfeição continuamente, estava sentada no chão, de pijama, descabelada, unha a fazer e se acolhendo, com tamanha bravura e satisfação.
Consegui me ver e entender que é possível se reencontrar com a nossa essência e se redescobrir em nós mesmos, quando aceitamos nossas vulnerabilidades e o jeito único de sermos.
Reviver esse ato de me olhar no espleho, hoje, às vésperar de celebrar meu 30º aniversário, me proporcionou aquele quentinho no coração de quem se ama, se acolhe e diz pra si mesma: nossos caminhos, muitas vezes, precisam ser percorridos por nós mesmos, sabemdo que atrás, se quisermos, sempre haverá uma rede de apoio para nos estender a mão.
Às vezes, algumas pessoas nos deixarão, ao longo da caminhada, permanecendo mistos de sentimentos, entre nostalgia e saudades, mas que despedidas e fins de ciclo também fazem parte da impermanência da vida.
Quem eu sou hoje, ao chegar aos 30 anos, é alguém muito mais forte, madura e responsável, consigo e com os outros, do que pensei que seria.
Alguém que, enfim, entendeu a riqueza de se enxergara partir da vulnerabilidade e que se permite ser e se demonstrar frágil.
A verdade é que ainda estou longe de ser tudo aquilo que posso ser um dia mas, pela primeira vez em muito tempo, permito ir me abrindo para o mundo sem tantas amarras assim.
Estar comigo mesma, de frente para o espelho e em tantos outros momentos, tem sido o melhor presente que pude me dar.
Não posos dizer que já me aceito e me acolho em todas as minhas facetas. Seria hipocrisia.
Mas o que aprendi ao longo deste percurso é que venho o construindo diariamente e olhando para dentro, com foco sobre quem eu sou e nas inúmeras possibilidades de redescobertas, que venho desvelando a meu respeito.
Hoje, mais do que nunca, acredito que nada acontece por acaso: por mais árduo e desafiador que a jornada do autoconhecimento seja, ela é também rica e trasnformadora. E isso, por si só, vale a pena.
Texto: Ane Elyse Fernandes
Fotografia: Flora Elias
Direção Criativa: Anna Leão
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