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Carta de amor ao meu Grisalho

Um relato sincero sobre fios brancos, pressão social e autoestima capilar.

Carta de amor ao meu Grisalho

Eu escolhi um vestido vermelho que era de uma das minhas primas e a decoração de Hello Kitty já esperava os convidados da minha festa de 11 anos. Ao ir pro espelho passar meu brilho e escovar meu cabelo, eu o vi pela primeira vez: meu primeiro fio de cabelo branco.

Pontudo, imponente e bem no topo da minha cabeça.

A minha primeira reação foi de curiosidade e fascínio por ele parecer um fio de nylon de uns 2cm entre todos os outros fios que, molhados, pareciam mais pretos e o destacavam. Como ele chegou àquele tamanho sem eu nunca ter reparado nele antes?

Mostrei meu primeiro fio branco pro meu pai e, logo em seguida, usei uma tesourinha para cortá-lo bem curtinho, disfarçá-lo. Que estranho pensar que com apenas 11 anos meu primeiro instinto foi de curiosidade e o segundo de esconder, não é? 

Quando você é (a) única grisalha 

Nas revistas que eu lia religiosamente durante a minha pré-adolescência e adolescência, eu nunca li ou vi outras meninas falando sobre isso. Eu era a única das minhas amigas com cabelos brancos e, por alguma razão, eu não me importava de ser a única. Eu me sentia especial.

Por causa disso, eu me aproximei cada vez mais da internet e dos blogs escritos por mulheres que, mesmo que fossem um pouco mais velhas que eu, também tinham que lidar com a raiz branca crescente e que faziam aquilo não parecer um problema para elas.

Aos 14, o centro do meu cabelo já era grisalho, a mistura de fios brancos e castanhos, mas a presença de uma mecha branca que emoldurava meu rosto fazia eu me sentir muito mais eu. 

A história do meu cabelo

Eu sempre AMEI mudar o cabelo. Seguia os cortes de cabelo da Sandy durante a infância e já tinha feito minha primeira mecha com descoloração e tinta rosa pink ainda antes do grisalho chegar. 

Não demorou muito para eu entender que a expectativa das pessoas para que eu disfarçasse meus fios brancos era uma chance para experimentar diferentes cores e me divertir com diferentes versões de mim, ainda adolescente.

Eu pintei meu cabelo pela primeira vez aos 15. Um castanho acobreado que parecia mais ruivo a cada vez que eu retocava me acompanhou por alguns bons anos antes de eu voltar pro castanho “natural”.

Com o tempo, percebi que nunca deixei de amar mudar o cabelo, mas que as mudanças que escondiam meus fios prateados não me interessavam

Eu não consigo me enxergar sem a minha raiz grisalha. Eu não sou eu mesma tentando disfarçar algo que, na verdade, eu amo e acho que merecia o contrário: destaque.

O grisalho retomando seu destaque

Decidi há alguns anos que eu iria voltar pra mim, pro que eu realmente gosto e valorizo. Esse processo aconteceu junto com a quarentena e a vontade de deixar o cabelo ficar totalmente natural.

Apesar de essa ser a minha declaração de amor ao meu grisalho, eu admito que ainda me sinto pressionada a ter uma apresentação mais neutra e comum, mais por uma pressão estética associada ao meu trabalho e a constante exposição da minha imagem nas redes sociais. 

Hoje, já inaugurada a minha terceira década de vida, acho o meu cabelo grisalho um dos pontos mais interessantes sobre a minha beleza.

Sim, beleza. Embora tentem me fazer acreditar no contrário, isso eu sempre entendi: meu cabelo brilha e, por isso, eu brilho junto.

Desejo que outras mulheres e meninas descobrindo seus primeiros fios de cabelo branco tenham a oportunidade de entender que eles não fazem delas menos bonitas e vaidosas. 

Se você gostaria que eu relatasse mais sobre a minha experiência com cabelo grisalho e cuidados com fios brancos, me conta um pouco sobre a sua história com o seu cabelo? Vou adorar ouvir.

Amanda Padilha jornalista

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