Em vez de seguir o empreendedorismo de YouTube, as mulheres que têm cruzado o meu caminho mostram na prática a força do tão falado propósito.
Por: Isadora Gonçalves
Me considero uma pessoa com consciência política, e me impressionam os fatos que continuam ecoando além de seu tempo, presentes em cada passo que damos rumo à igualdade e à justiça. No entanto, um acontecimento determinante para nós, mulheres, e sem o qual talvez eu nem estivesse escrevendo este artigo, permaneceu desconhecido para mim até então.
Quem me introduziu a ele foi Margarida Salomão, três vezes pioneira em Juiz de Fora com cargos tradicionalmente masculinos: reitora da Universidade Federal, Deputada Federal e, atualmente, Prefeita.
A Bancada do Batom surgiu durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988, quando “mulheres de todos os partidos, da direita, da esquerda, do centro, tiveram essa solidariedade, em convergir a lutar em favor de pautas que fossem do interesse das mulheres”, como descrito por Margarida.
Naquele momento, 25 mulheres ergueram-se diante de um país marcado por cicatrizes que persistem mesmo após 60 anos, buscando um futuro melhor. A chama acesa pela “bancada do batom” continua a arder, iluminando o caminho para uma sociedade mais justa e igualitária.

Nos últimos meses, tenho feito parte de eventos femininos e grupos de mulheres empreendedoras. A partir dessas experiências, percebi que cada mulher carrega a própria chama, irradiando coragem e inspiração.
Conforme as conversas vão avançando e eu vou ouvindo suas histórias, estou percebendo que não estou mais sozinha em minha jornada. Estou me encontrando rodeada por outras mulheres, cada uma navegando em suas próprias águas, às vezes calmas, às vezes turbulentas, mas juntas, compartilhando o mesmo propósito de alcançar novos horizontes.
Em uma dessas experiências trouxe para minha vida algo muito profundo. A psicóloga Natália Tatanka mostrou que os negócios femininos não apenas prosperam por seus esforços individuais, mas também são impulsionados por um propósito ancestral.
Natália nos fez enxergar que os negócios liderados por mulheres carregam consigo uma conexão única com suas mães, avós, bisavós. A experiência, conhecimento e bênçãos dessas mulheres reverberam em nossas escolhas empresariais, nos dando uma orientação valiosa e uma base sólida para nossos objetivos.
Ao me concentrar nessa experiência, percebi que essas figuras femininas são guias essenciais que nos ajudam a manter nosso propósito nos negócios. E é com essa sabedoria ancestral que muitas empreendedoras encontram força, inspiração e direção para seguir em frente.
Assim como Juliana, estou em busca de inspiração para lidar com a realidade de ainda ocuparmos somente 39,1% dos cargos de tomada de decisão¹. É com essa crença, que agora considero inabalável: a liderança feminina é o motor que impulsionará uma mudança verdadeiramente transformadora em direção a um futuro mais sustentável e justo para todos.

Falo por mim e acredito que todas as que se fizeram presentes nessa trajetória que estou trilhando. Às 25 mulheres que se levantaram naquele dia. Abigail Feitosa, Anna Maria Rattes, Benedita da Silva, Beth Azize, Cristina Tavares, Dirce Tutu Quadros, Eunice Michelles, Irma Passoni, Lídice da Mata, Lúcia Braga, Lúcia Vânia, Márcia Kubitschek, Maria de Lourdes Abadia, Maria Lúcia, Marluce Pinto, Moema São Thiago, Myrian Portella, Raquel Cândido, Raquel Cândido, Raquel Capiberibe, Rita Camata, Rita Furtado, Rose de Freitas, Sadie Hauache, Sandra Cavalcanti e Wilma Maia.
Com a persistência incansável das mulheres que nos antecederam, passaremos adiante essa chama às próximas gerações e nos empenharemos em prepará-las para que se ergam nos momentos em que as mulheres mais precisarem, assim como as 25 que seguiram seu propósito.
¹ Dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria) referentes a 2023.