Eu nunca acreditei em caras que falavam que não estavam prontos para se relacionar pois tinham acabado de sair de um relacionamento longo.
Nunca acreditei, nem por um minuto.
Sempre achei que o problema era comigo, afinal, alguns meses depois, esse cara estava lá, namorando outra pessoa. Então não podia ser verdade, podia?
Acho que quem nunca esteve em relacionamento longo não vai de fato entender. E, quando falo longo, não falo desses namoricos de seis meses que quando termina parece que o mundo cai.
Não, esses são os mais fáceis, acredite. Eu falo daquele relacionamento fácil, em que você conhece a pessoa de cabo a rabo.
Aquele em que o outro já está tão intrínseco no seu ser que, às vezes, não sabemos onde um começa e o outro termina. Aquele que parece uma parte do nosso corpo, e que se arrancado, a gente fica de fato deficiente.
Esses sim são os mais difícieis.
Me conta, como que termina algo assim?
Deveria ter um manual de instruções de como terminar um relacionamento longo.
Um manual, de como contar pro irmão, que já virou teu irmão também, pra sogra, pro sogro, pro tio Rogério que mora longe, mas que ia se hospedar na sua casa semana que vem e para aquele grupo de amigos, tão conhecidos, mas tão NÃO seu, que você também vai deixar pra trás.
Me diz, como lidar com tudo isso, e ainda ter tempo de pensar no coração?
E que sabe, eu estava acostumada a só lidar com a ponta do iceberg… Estava acostumada a lidar”só” com a perda do amor.
Estava acostumada a de fato me dar o direito de só chorar pela pessoa…
Mas o que a gente não sabe é que, dentro desses relacionamentos longos, chorar pela pessoa é talvez a última coisa em que a gente vai pensar!
Isso porque tem casa, as contas, tem até a meia que na realidade você se dá conta que não tem, porque até isso vocês compartilham.
Aplausos para todos que conseguem se separar.
Aplausos porque eu sei que é mais fácil viver um certo tipo de falta de romantismo misturada com amizade velada que ninguém ousa falar, porque se falar tudo desmorona.
E como se em algum momentoa gente achasse normal parar de construir uma casa de tijolos e para construir uma casa de tijolos e para construir uma casinha de pau a pique. Uma casinha que por mais que coloquemos esforço para construí-la, um dia vai desmoronar.
Acho que essa é a minha forma de dizer que eu vou me juntar ao grupo das pessoas que dispensam alguém dizendo “não é você, sou eu”… Porque é verdade, e é duro.
Acho que essa é minha carta onde eu escrevo um acordo comigo mesma para poder começar a entender essas pessoas, ou pelo menos tentar.
Às vezes, tudo que precisamos é de uma taça de vinho barata, muita música, e um pouquinho de (acredite) ressaca, para poder mudar a nossa perspectiva, e enxergar, o que antes parecia tão distante, e tão inacreditável.
Faz sentido?
Texto: Pamella Davis
Fotografia: Flora Elias
Direção Criativa: Anna Leão
Apoio: Fórum da Cultura