Diante dos variados modos de expressão que a moda nos possibilita, um específico sempre me chamou a atenção: o streetstyle.
O estilo é visto muitas vezes como um estilo alternativo com o qual as pessoas conseguem brincar com peças de roupas e acessórios. Principalmente nas semanas de moda, mesclando as mais variadas tendências de forma descontraída e única.
Na realidade, o streetstyle – ou estilo de rua – conta com uma história e um caminho moldado muito além de apenas diversão com os looks. Ele surgiu por meio de movimentos de resistência cultural e urbana.
O que realmente é o streetstyle?
Diferente das tendências, que muitas das vezes são rápidas e passageiras, o streetstyle se apresenta como uma manifestação da autenticidade pessoal por meio da moda.
É um estilo que tem uma enorme e enraizada influência cultural e urbana, na qual a autoexpressão flui de maneira única e criativa.





Como surgiu o streetstyle?
Por carregar essa grande veia da vivência urbana, ele surge em meio aos movimentos de margem no decorrer da história.
Em contextos e locais onde as pessoas eram excluídas e marginalizadas, o streestyle surgiu com o objetivo de questionar e resistir aos padrões e normas que a sociedade estabelecia.
Ou seja, as pessoas começaram a utilizar das roupas e a moldar um estilo próprio para se posicionarem.
É muito difícil datar exatamente quando esse movimento por meio das roupas realmente surgiu.
Em épocas passadas, já haviam movimentos de margem motivados por insatisfações sociais que se utilizavam da expressão por meio das roupas para quebrar os padrões estabelecidos.
Dessa forma podemos dizer que esse movimento sempre esteve presente, mesmo que não pré-definido e/ou nominado, mas presente no que se fazia sentido.
No entanto, podemos observar alguns desses movimentos que ganharam notoriedade em momentos mais recentes da história, como a popularização do jeans, após a Segunda Guerra mundial.
De uniforme de trabalho, os jovens na época aderiram o jeans como sinônimo de protesto até ele se tornar uma peça fundamental no guarda-roupa.
Influências do streetstyle

Outros movimentos que marcaram muito a história do estilo de rua na década de 70 foram o Hip Hop, o Skate, o Punk e outros.
Como modo de resistência, conseguiram criar uma linguagem visual por meio das roupas de maneira tão marcante e única.
Por isso, muitas pessoas consideram que ali foi a consolidação, e até mesmo o berço da cultura street.



A moda sempre teve na sua história códigos de vestimenta influenciados pelo consumo capitalista e voltados para o mercado elitista.
Ou seja, esses códigos poderiam facilmente colocar ou não as pessoas em determinados lugares ou posição social.
Esse modo de separação da sociedade fez com que àquelas pessoas, que eram oprimidas e jogadas na margem da sociedade e de tudo o que era apresentado, se movimentassem para mudar e quebrar todo aquele padrão que era imposto.
Assim, por meio da arte, da música e da vestimenta, as pessoas começaram a expressar as dificuldades de se viver em um sistema que as oprimia.
Ao mesmo tempo, elas traziam a visão de uma beleza estética que não era vendida nas vitrines e campanhas, mas que era única e autêntica.


Dessa maneira, começava-se a popularizar um estilo urbano forte e marcante, inicialmente com forte ligação aos brechós, que serviam roupas acessíveis e de muita qualidade.
Com a força do movimento e se unindo a marcas como Stüssy, considerada a pioneira do streetwear, um senso de comunidade foi estabelecido promovendo uma conexão com o streetstyle.
Além da Stüssy, outras marcas se uniram para fortalecer essa comunidade, como Supreme, Nike, Adidas e outras.

A relação entre fotografia e a moda de rua
Com grandes marcas dando atenção à esses movimentos, fotógrafos começaram a surgir para capturar toda aquela arte que acontecia na rua por meio das roupas.
Assim, o streestyle foi se popularizando e ganhando a atenção das revistas e semanas de moda.
Consequentemente, as pessoas foram se jogando cada vez mais na procura da autoexpressão por meio das roupas e acessórios.
Estilos cada vez mais autênticos surgiram, apresentando uma influência de moda que mesclava o urbano (street) com o que era apresentado nas passarelas.


Um dos pioneiros da fotografia de rua, e conhecido por popularizar do streetstyle foi Bill Cunningham.
Por volta de 1960, ele começou a fotografar os looks das pessoas em Nova York no dia a dia. Cunnigham deixava claro que para ele a moda verdadeira acontecia nas ruas, não apenas nas passarelas.








A rua inspirando a passarela
O streetstyle se tornou tão potente e marcante, que cada vez mais fotógrafos surgiam mostrando seus olhares da moda de rua.
A influência desse estilo começou a servir até mesmo de inspiração para o desenvolvimento de coleções para grandes marcas e referência para editoriais.
Hoje em dia, nas semanas de moda, o streetstyle se faz tão, e até mais, importante que os próprios desfiles, chamando a atenção do mundo todo.
Dessa forma, hoje podemos enxergar que o streetstyle não é apenas um estilo qualquer ou uma tendência. Ele foi e é um movimento de contracultura que transcendeu o uso das roupas e acessórios.
Um movimento social e cultural que teve e tem o poder de movimentar as engrenagens do sistema, questionando e quebrando normas e padrões para promover inclusão, empoderamento e liberdade de expressão.
Ele simboliza a individualidade, onde cada peça conta uma história de quem a veste, oferecendo uma alternativa autêntica em um mundo onde muitas vezes o que domina são as aparências.

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