São Paulo Fashion Week homenageia lenda da moda, Regina Guerreiro
Prestes a completar 30 anos, o São Paulo Fashion Week celebra a memória, e a homenageada do evento não poderia deixar de ser uma das personagens mais emblemáticas da moda brasileira: Regina Guerreiro, a jornalista que mudou a forma como a moda passou a ser vista e respeitada em nosso país.
Com curadoria de Renato de Cara, a edição traz o conceito “Jóias da Rainha”, uma alusão ao significado do nome de Regina (que significa “rainha”), e as jóias de sua experiência, da sua admirável trajetória no cenário da moda em nosso país.

Conheça a história de Regina Guerreiro
Em um ato rebelde, Regina cursou jornalismo a contragosto dos seus pais, em uma época em que a participação da mulher no mercado de trabalho era ínfima, e um verdadeiro privilégio.
No começo da sua carreira, há 60 anos, Regina conta, em entrevistas, que não desejava trabalhar com moda, porque ela era considerada algo “menor” e supérfluo. Seu objetivo era escrever matérias policiais, algo bem relevante e jornalístico.
Foi parar na editoria de moda a contragosto, e não gostava do trabalho de “amarrar sandália de modelo”, como conta em entrevista a Abril Insights .
Até que um dia, entrou no estúdio durante um ensaio de fotos, foi impactada pelo trabalho de construção de cena, e uma chave virou: entendeu que “a imagem era tão importante quanto a palavra”. (Em entrevista ao Abril Insights, disponível no Youtube).
Outro momento marcante na sua trajetória foi quando o homem foi para a lua pela primeira vez, e a moda mudou completamente.
“O homem foi para o espaço, e a moda mudou. E foi a primeira vez que eu entendi o que era moda. […] Foi a primeira vez que eu vi como a moda nascia de um desejo, de uma necessidade de uma maioria”. (Entrevista ao Abril Insights, disponível no Youtube).
Com sua visão sobre a moda transformada e agora, apaixonada, Regina foi capaz de mudar todo o mercado e a percepção de um país sobre o assunto! Com posicionamento honesto, irônico e com uma dose de humor, Regina transformou a forma como o jornalismo e as revistas de moda seriam feitos, até hoje.

Ela tem como premissa o “barbante, em vez do brilhante”, ou seja, um olhar tão apurado para a moda, que é capaz de olhar para todos os lados, e enxergar, dar voz e oportunidade para grandes talentos reais.
Seu interesse nunca foi o de bajular estilistas e marcas, ao contrário, suas opiniões sempre foram temidas e muito esperadas, verdadeiros divisores de águas.
Chegou a comparar um morador de rua enrolado em cobertas na Av. Paulista, amarrado, em cobertores e sacos de lixo, com o que viu na passarela da Commes des Garçons, em Paris.
Atos ousados, polêmicos e de uma honestidade que dá alívio.
Com sua genialidade, editou grandes revistas de moda brasileiras, dirigiu a Vogue por 14 anos e criou uma empresa de consultoria de moda, “Choc”, uma brincadeira entre o “chique” e o “choque”.
Como Regina Guerreiro vê o momento atual da moda
Sobre o momento atual da moda, Regina não vê com otimismo.
Em entrevista ao Globo, criticou ações de marcas, como por exemplo, Balenciaga, que colocou à venda tênis rasgados e sujos.
“Melhor colocar o tal tênis em uma cúpula de vidro e fazer uma exposição. Para marcar época. Ele não me convence. É importante e necessário discutir inclusão, diversidade, responsabilidade e sustentabilidade. […] Ao mesmo tempo, tudo parece uma desculpa pra dizer, ‘olha como eu sou legal e minha moda é contemporânea’, e usar como pretexto para lançar mais produtos. É uma teia comercial’”.
Ela também faz uma crítica à cultura das “tribos”, que são as “aesthetics”, em que buscamos mostrar nossa personalidade na moda através do pertencimento de grupos, e com isso, estamos todos sem identidade.
“A gente ia no Flore, no Le Deux Magot, que eram os cafés da moda em Paris, e cada pessoa era realmente um personagem. Chegava uma pessoa de cabelo vermelho, com um pompom na lapela. Chegava um senhor com um paletó com uma echarpe […] tudo tinha uma sinalização, um transbordar que, infelizmente, acabou. As coisas estão cada vez mais se uniformizando. […] Não vejo grandes vôos. Não vejo, primeiro, a pessoa ter coragem de ser ela mesma. As pessoas entram em espécies de guetos de comportamento”. (entrevista à Abril Insights).
Em entrevista ao FFW, Regina Guerreiro trouxe falas polêmicas e contemporâneas, sobre o cenário da moda, dizendo que o “sonho virou número”, sobre a dinâmica entre o comercial e a criação; e também que “não é possível fazer moda com sustentabilidade” (algo que discordamos, acreditamos que a sustentabilidade traz novas ferramentas e variáveis para a criação, que pode ser bela, artística e não prejudicar o planeta).
No site oficial do São Paulo Fashion Week, a jornalista celebra: “Ontem: Paixão fulminante!! A tal da MODA me seduziu e passei minha vida falando dela. Hoje: Emoção tipo “explode coração”. O SPFW Memória lembrando e falando de mim”.
Vale lembrar que Paulo Borges, criador do SPFW, disse em entrevista ao Jornal Gazeta: “eu comecei a trabalhar com moda com a Regina. Foi pelas mãos dela, pelas falas dela, pelo olhar dela, que eu me apaixonei pela moda”.
E acrescenta, em entrevista à Elle: “Ela é a primeira mulher que, nos anos 1960, resolveu que moda não era fútil, não era coisa de cozinha, nem de receita de bolo. Foi ela que pavimentou um caminho de jornalismo que cria imagem, escreve, critica, dá opinião, faz reflexão. As pessoas precisam entender que há uma estrada que já foi pavimentada, que hoje está mais fácil, exatamente porque essa estrada foi construída. E ela começou com a Regina. “
Nada mais justo do que uma homenagem à altura da rainha do mercado editorial de moda brasileiro.

Sobre o SPFW N58
O SPFW N58 acontece entre 16 a 21 de outubro de 2024, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, e no Iguatemi São Paulo, além de desfiles externos em outros pontos da cidade.
Tendo o seu line-up divulgado, 40 marcas desfilarão um verdadeiro show para a temporada de inverno 2025.
A Semana contará com os retornos da marca Herchcovitch; Alexandre que dará início aos desfiles da semana e da Fernanda Yamamoto que finalizará o evento.
Teremos também a estreia dos estilistas Marco Normando e Emídio Contente, da Normando, e o estilista Dario Mittmann.
A SPFW também contará com uma sequência de talks, que serão realizados no Pavilhão de 16 a 20 de outubro com início às 17h, abordando a importância da
construção da imagem de moda, e que serão mediados por Carol Ribeiro, modelo, empresária e apresentadora.
As palestras contarão com a participação de convidados especiais, incluindo stylists, fotógrafos, editores e especialistas em beleza.
Confira o line-up completo:
14 de outubro
11h – Herchcovitch; Alexandre
15h30 – Projeto Ponto Firme
15 de outubro
19h30 – Another Place
16 de outubro
11h30 – Patrícia Viera
14h30 – Meninos Rei
16h – Lilly Sarti
18h – Foz
19h30 – Normando
20h30 – Martins
21h30 – Bold Strap
17 de outubro
11h30 – Dario Mittmann
14h30 – Salinas
16h – Heloisa Faria
16h – Gefferson Vila Nova
18h – Cria Costura
19h30 – Handred
20h30 – Catarina Mina
21h30 – Artemisi
18 de outubro
10h30 – Az Marias
11h30 – João Maraschin
14h30 – Apartamento 03
16h – Weider Silveiro
16h – Rafael Caetano
18h – Sau
19h30 – Sou de Algodão
20h30 – Ateliê Mão de Mãe
21h30 – João Pimenta
19 de outubro
11h30 – Ângela Brito
14h30 – Lucas Leão
16h – Santa Resistência
16h – Silvério
18h – Mercado Livre
19h30 – The Paradise
20h30 – Led
21h30 – Isaac Silva
20 de outubro
16h – Renata Buzzo
16h – David Lee
18h – Walério Araújo
19h30 – À La Garçonne
20h30 – Dendezeiro
21h30 – Lino Villaventura
21 de outubro
15h30 – Fernanda Yamamoto
Para adquirir seu ingresso, acesse a página oficial do evento.
Matéria escrita por Anna Leão e Dolvani Barbosa.